No cenário do audiovisual, as mulheres têm desempenhado um papel fundamental, redefinindo narrativas e desafiando as normas estabelecidas. Diante desse contexto, em um debate importante com renomadas mulheres do audiovisual que atuam no Norte, nacionalmente e mundialmente, o Festival de Cinema Latiano-Americano de Alter do Chão deu protagonismo para uma discussão holística sob o tema “O Olhar da Mulher nas Telas do Cinema: Uma Jornada de Empoderamento e Resiliência”. A ação aconteceu no segundo dia de programação do Festival.
A mesa, composta por, Zienhe Castro, Elizangila Dizincourt, Tarsila Alves, Leena Manimekalai, Amanda Poça, Ariadne Mazzetti, Cynthia Alario, Chelsea Greene, Val Araújo, Lucineide Pinheiro e Priscila Tapajowara, e ainda Lorena Montenegro como mediadora, deu voz para as narrativas das carreiras dessas profissionais. O propósito central era compartilhar experiências históricas, destacando décadas de luta feminina por espaço em um cenário predominantemente masculino.
Leena Manimekalai, diretora indiana, trouxe uma perspectiva global, destacando a dificuldade de as mulheres alcançarem a autoria no cinema. Ela, que atualmente está com projetos na Amazônia, mais especificamente em comunidades quilombolas, relatou que vem de um lugar onde a autoria feminina não chega a 1%.
“Eu já produzi 15 filmes, mas por morar em um lugar onde a censura domina, precisei passar pela corte da Índia para autorizar minhas produções. Para mim é difícil ver mulheres indianas como escritoras de fatos, a gente vê apenas em cenas estereotipadas. Eu desejo ver mais mulheres com funções de autoridade nas produções do cinema”, enfatizou.
Ziene Castro, cineasta paraense, destacou como as mulheres são frequentemente relegadas ao papel de ouvintes, apesar de terem muito a dizer. Descrevendo seu próprio percurso, ela recordou como, na década de 90, conduziu um cinema itinerante pelas ruas de Belém, financiando suas produções de maneiras improváveis. A cineasta enfatizou a complexidade dessa empreitada na época, principalmente pela falta de políticas públicas e apoio.
“Eu abracei a cultura como uma tábua de salvação para a sua vida. Eu fui mãe na adolescência e vivi vários preconceitos, mesmo tendo uma trajetória de vida muito dolorida, de muitos percalços, e de cicatrizes, eu não tenho dúvidas que o cinema me salvou. Não foi fácil os homens sempre me subjugarem até que fui ocupando por coragem os espaços que eu queria”, disse.
Cynthia Alario, coordenadora da produtora Brazzuca, destacou a necessidade de criar rotas e abrir pontes para outras mulheres no cinema. Ela ressalta o papel do CineAlter, conectando idealizadores, produtores e o público, ampliando a visibilidade das produções brasileiras plurais.
O debate não apenas trouxe à tona as adversidades enfrentadas pelas mulheres no cinema, mas também enfatizou a importância de criar espaços inclusivos e oportunidades para que suas vozes continuem a ressoar nas telas, construindo uma narrativa cinematográfica verdadeiramente diversificada e empoderadora.
“O acesso limitado a oportunidades e a persistência de estereótipos de gênero contribuem para a criação de um ambiente desafiador para nós mulheres e isso piora quando somos amazônidas. Eu era chamada para ser produtora local em Santarém e os produtores que eram de outros estados me colocaram em posição de serviçal e eu achava que era normal”, relembra, Elizangila Dezincourt, atriz e produtora de cinema em Santarém, oeste do Pará.
O debate não apenas evidenciou as adversidades enfrentadas pelas mulheres no cinema, mas também ressaltou a urgência de criar espaços inclusivos e oportunidades para que suas vozes continuem a ressoar nas telas, construindo uma narrativa cinematográfica verdadeiramente diversificada e empoderadora.
Um dos objetivos do Festival de Cinema de Alter do Chão é reconhecer e celebrar as contribuições das mulheres no cinema. O desafio agora é promover uma transformação que transcenda o cenário atual, capacitando as mulheres a liderar e inspirar futuras gerações na sétima arte.
Serviço – O CineAlter é uma realização do Instituto Território das Artes, organização sociocultural do Tapajós, em Termo de Fomento com a Secretaria de Estado de Cultura do Pará (SECULT/PA), via emenda parlamentar do Deputado Federal Airton Faleiro. O festival conta também com a parceria de 42 instituições públicas e privadas.
Texto: Natashia Santana e colaboração de Ádyla Valente