“A gente se vê neles, a gente sente que é nosso, que está mostrando mais as coisas do nosso cotidiano”, disse Ana Maria Pinho, 49 anos, professora e moradora da Aldeia Borari, em Alter do Chão, sobre o Festival de Cinema Latino-Americano de Alter do Chão (CineAlter). Coordenado por Raphael Ribeiro, o evento, que está na terceira edição, é fruto de uma parceria baseada no respeito mútuo, com a permissão das lideranças da vila e a apreciação dos moradores da região.
O líder Borari, cacique Dengo, destaca a reciprocidade entre a coordenação do evento e a aldeia, sublinhando a importância da troca de experiências por meio do audiovisual e da cultura. A comunidade abraça o festival como uma oportunidade de compartilhar tradições, vivências amazônicas e enriquecer a experiência de quem vive e visita o local.
“No primeiro ano de festa do cinema o Raphael veio me visitar, veio me pedir permissão para trazer o evento como forma de respeito e todo ano tem sido isso. Por isso, nós abençoamos esse evento como algo nosso também”, disse o cacique.
Para o coordenador do evento, é fundamental reconhecer a importância das lideranças como guardiãs da identidade e da integridade cultural da comunidade. Ele enfatiza que esse diálogo respeitoso promove uma colaboração mais significativa entre os organizadores do evento e a comunidade.
“Para todos nós que somos os idealizadores do CineAlter, essa atitude de respeitar as lideranças antigas não é apenas uma formalidade, mas uma via para uma compreensão mais profunda das tradições e valores locais. Esse entendimento é essencial, principalmente ao reconhecer a sabedoria e experiência das lideranças antigas. Não tenho dúvidas que essa é uma das principais chaves para o sucesso do nosso evento”, destacou.
Pertencimento – Ana Maria Ferreira Pinho, professora de Educação Infantil, expressa sua satisfação com a evolução do CineAlter. Destaca a identificação com os filmes, especialmente os documentários, que agora, segundo ela, refletem mais o cotidiano dos amazônidas e com isso tem o sentimento de pertencimento.
Ela enfatiza ainda o potencial educativo do evento, fornecendo material valioso para compartilhar com os alunos, elogiando a acessibilidade do evento e reconhecendo o impacto positivo na comunidade.
“E eu assisti vários filmes, em algumas produções eu vi gente que eu conheço, gente daqui da vila mesmo fazendo documentário, eu adorei. Tem muitas imagens que a gente pode levar para a escola, pode mostrar para os alunos, é uma coisa bem acessível. Esse evento se tornou uma boa ferramenta que está em nossas mãos e vai ser muito proveitosa para a gente em relação à escola. Todos estão de parabéns”, enfatizou Ana.
Geração de renda – O Festival de Cinema de Alter do Chão não apenas ilumina as telas, mas também se torna uma valiosa fonte de oportunidades de geração de renda e emprego para os moradores da comunidade. Esse empreendimento cinematográfico cria uma demanda crescente por serviços locais, desde hospedagem, alimentação, produtos artesanais até a contratação de mão de obra para atuação no evento. Essa procura impulsiona a economia local, oferecendo aos residentes a oportunidade de empreender e fortalecer seus negócios.
Manoel Tapajós Pride, de 19 anos, atua na vila como vendedor de iguarias típicas, destaca o impacto econômico positivo do CineAlter na região. Ele percebe o festival como uma oportunidade para os vendedores como ele terem uma renda a mais, pois com a alta demanda público a quantidade de venda dos produtos que vende, aumenta.
Além disso, a exposição cultural proporcionada pelo festival oferece uma vitrine única para os talentos locais. Artistas, músicos, artesãos e empreendedores têm a chance de exibir seus trabalhos para um público mais amplo, potencialmente expandindo suas redes de contatos e clientes.
Assim, o Festival de Cinema de Alter do Chão não é apenas um espetáculo cinematográfico, mas uma plataforma dinâmica que catalisa oportunidades econômicas para a comunidade, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região.
Serviço – O CineAlter é uma realização do Instituto Território das Artes, organização sociocultural do Tapajós, em Termo de Fomento com a Secretaria de Estado de Cultura do Pará (SECULT/PA), via emenda parlamentar do Deputado Federal Airton Faleiro. O festival conta também com a parceria de 42 instituições públicas e privadas.
Texto: Natashia Santana e colaboração de Ádyla Valente
Fotos: Paola Acioly